domingo, 14 de dezembro de 2014

Preconceitos Estéticos

     Todos nós temos preconceitos estéticos. Falso é quem diz que não os têm. Somos treinados desde novos a reconhecer o belo e o não belo, e tratamos instintivamente as duas coisas de maneiras diferentes. Já é verdade absoluta, por exemplo, de que comidas bonitas recebem melhores avaliações de sabor que comidas feias. Ou ainda, sabemos que flores vendem mais que folhas. Não estou dizendo que não existem exceções, pois elas existem e são muitas. Porem estou enfatizando o fato de que mesmo que lutemos contra, sempre teremos preconceitos estéticos por que estes são fatos inclusive evolutivos.
     Vivemos num mundo de imagens. Nossa comunicação escrita está cada vez mais sendo trocada pela comunicação visual. As antigas provas de português discursivas com textos de duas páginas agora cedem lugar para questões fechadas onde a leitura de mundo e avaliada não só com texto, mas também com um quadro ou uma charge. Sendo assim, não era de se esperar que os valores estéticos diminuíssem. Muito pelo contrario. A dita geração saúde, aquela depois da “geração Coca-Cola”, acabou se tornando a “geração fitness”. Não estamos falando de ingerir alimentos orgânicos ou estar em dia com o seu sistema cardiovascular. Esta geração dita saldável bate cada vez mais os recordes dos hospitais quanto ao que diz respeito a intoxicação, overdose de remédios, rompimentos e lesões provenientes de esforço excessivo... A pouco tempo atrás, esse ultimo só ocorria com pedreiros e trabalhadores do campo.
     Mas a apelação em prol da estética não é nova. No inicio do século passado ainda se usavam diversas toxinas perigosíssimas como recursos estéticos. (Não me refiro aqui à toxina botulínica, que recentemente se tornou uma febre. Falo sobre antigas toxinas, em sua maioria extraídas de vegetais, usadas para dar a cor escura das sombras que temos hoje ou ainda vasodilatadores para os lábios.) Além disso, conhecemos bem outros casos estramos, como o crânio deformados das mulheres no antigo Egito, o pescoço alongado das mulheres-girafa ou os pés deformados por sapatos minúsculos de porcelana dos antigos impérios orientais. Digo tudo isso apenas para reiterar o fato de que a busca extrema por uma estética perfeita não é uma novidade, e sim é uma característica inerente das civilizações humanas.
     Vou me abster um pouco de falar aqui tudo que poderia sobre a reflexividade que a mídia oferece à padrões estéticos não convencionais, até por que estes padrões mudam e felizmente algumas empresas conscientes lutam fortemente para quebrar alguns tabus. Prefiro falar aqui dos nossos preconceitos, os que temos enraizados culturalmente em nossos cérebros. Um belo exemplo: Eu nasci em uma família típica de Minas Gerais. Grandes almoços em família eram um dos afazeres clássicos do fim de semana e uma das minhas mais doces lembranças do mesmo era minha avó no fogão a lenha cozinhando. Minha mãe também cozinhava divinamente e sempre fazia questão de por meu prato quando eu era pequeno e perguntar sobre minha vida com todo o carinho que manda o gabarito. Com isso, acabei relacionando a ideia de meiguice e carinho a pessoas mais gordas. Nunca achei que pessoas magras não podiam ser carinhosas, mas sempre que via uma pessoa gordinha pensava “Essa pessoa deve ser legal!”. A maioria das vezes eu acertei, talvez até por uma predileção minha a achar algo e não pela pessoa o ser. Outro dos meus preconceitos estéticos está na dificuldade de conversar com pessoas mais bonitas que eu. Aqui acho que o fato de eu ter levado muitos tocos de pessoas lindas ao longo da minha vida me faz relacionar o fato de que a pessoa é bonita com o fato dela me rejeitar. E é triste, por que as vezes conheço pessoas maravilhosas e lindas e simplesmente não consigo falar por conta de um medo bobo e infundado.
     Outro fato curiosos é que a maioria das pessoas tem tanto medo da rejeição estética que acabam por misturar a imagem do que querem ser da de com quem querem estar. Com isso, acabam se formando coisas que chamo de “castas estéticas”. Explico: Pessoas com padrões estéticos parecidos que só namoram ou saem com pessoas dentro do mesmo padrão estético, que juntas formam um conjunto fechado. O mais fascinante disso é que se pensarmos em uma cidade mediana como a minha, dentro de pouco tempo você varreu boa parte das possibilidades dentro de uma casta estética, e.g., ainda outro dia estava dentro do cinema e vi dois ex-namorados de uma mesmo amigo meu juntos. Não é mais raro ver situações como essa. A quem diga que a solução moderna para a felicidade é a clonagem. Bem, eu sou destes que discorda. Que prefere pessoas esteticamente diferentes do que eu sou. É uma questão de gosto, o que torna tudo completamente pessoal.
     Porem, apesar de eu defender o fato de que os preconceitos estéticos são naturais, me pergunto como é difícil lidar com eles. Imagine uma pessoa que cresceu num meio completamente exótico, sei lá, como hippies. Depois de uma certa idade, quando as pessoas começam a se interessar por você, elas serão de todos os tipos! Você pode ter criado tantos preconceitos ao longo deste tempo vivendo em uma bolha estética tão limitada... E não me refiro aqui à predileções, por que essas são mais naturais ainda! Sentir atração por pessoas com uma dada característica é normal e saldável. O problema está quando nos negamos a possibilidade de gostar de alguém só porque você é branco e ela é negra, ou porque você é forte e ele é gordo, ou porque você tem umas tattoos e ela não tem nenhuma... Começamos a ter que repensar nossas opiniões quando elas nos limitam ou fazem com que limitemos o próximo. O quão longe será que nossos preconceitos estéticos vão nos levar (ou nos impedir de ir)?



"Um Alastus que não teria sofrido tanto..."
Por João Paulo Alastus

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