sábado, 16 de novembro de 2013

Dos Olhos que Tive

     Enquanto eu olhava para seus olhos, vi o quanto eu mudei ultimamente. Este olhar distante, curioso e por vezes tão triste, me lembrou de mim mesmo a tempo, quando eu si quer me perguntava quanto ao porquê de ter esperança, simplesmente a tinha. Eu já me apaixonei a primeira vista quando tinha esta luz no olhar, já sorri do simples fato de dizer oi... Já amei como julgo que talvez nunca mais ame... Amei por que não tive medo! Amei por que, enquanto um estranho sentado ao meu lado me olhava, eu simplesmente admirava as luzes e as formas dos espetáculos. 
     Lembrei-me agora de que já passei por isso. Já olhei pro lado nesta mesma platéia e percebi um olhar não voltado para o espetáculo, e sim para mim. Foi um começo lindo de um fim trágico. A ilusão, a inocência, a doçura... Com a mutilação constante do nosso coração, tudo isso se esvai lentamente. Quando nos damos conta, já nos tornamos máquinas automáticas de tomar decisões acertadas baseadas em lógica, não em sentimentos. Quando percebi que já não podia mais dar meu coração da mesma forma que antes, notei o quão decepcionante com sigo mesmo perder até o que julgava ser mais lindo em você mesmo...
     Ao mesmo tempo, hoje parte daquilo que eu fui gritou de dentro de mim. Os olhos brilhantes que refletiam a luz dos holofotes distantes despertaram um sentimento de afeto tão grande. Dentro de mim, uma força gritava, implorando por um abraço forte... Ela queria um aromático bolo de cenoura, um copo de chocolate quente, um livro lido na frente de uma lareira... Ela queria ser feliz de novo, simples e completa como já fora outrora.
     Dizem que não se pode ensinar novos truques a um velho cão, mas e quanto a lembrá-lo dos  truque que ele já havia esquecido completamente? Não sei o que tinha brilhando por trás daqueles olhos caídos, mas me encantou tão profundamente que nem sei mais se meu coração realmente esqueceu tudo aquilo que não sinto há tanto tempo.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Sentimentalismo Quântico

     Desde que os cientistas do inicio do século passado resolveram enfiar de vez esta coisa de relatividade e teoria quântica na física, dissemos adeus a tudo que julgávamos determinísticos na única ciência exata que se propunha a descrever o futuro antes que o mesmo ocorresse. O pior talvez seja saber que esta não foi uma escolha: O mundo não é, de forma alguma, determinístico. Porem, ainda sabemos que uma dada condição inicial nos garante a total improbabilidade de uma série de respostas (Pelo menos pelo que já conhecemos.). Podemos traçar um espaço de respostas possíveis e descartar outras tantas. O difícil é entender quais são estas. Em mecânica quântica, este é um problema chamado de “Problema de Auto-Valores”, onde temos “só” que achar as soluções de uma equação (Dizendo assim, parece até que isso fosse simples.), a famosa Equação de Schrödinger.
     Se é assim, e é, o que então podemos tirar de previsão da natureza? Sabemos as coisas que podem acontecer com suas respectivas probabilidades. A pergunta então passa pro experimento: Será que a probabilidade realmente se verifica?  Até agora, poucas teorias foram tão certas quanto a Teoria Quântica.
Vamos agora mudar de foco um pouco: Quando conhecemos uma pessoa nova, alguém em potencial, estamos nos deparando com um complicado problema de previsão. A pessoa pode ser tomada como uma condição inicial do problema. Já nós? Somos como condições de contorno (Termo que usamos em física e matemática para coisas que restringem os objetos procurados, como as bordas de uma caixa.). O que nos resta agora é tentar averiguar a solubilidade do problema. Vejam bem, não existe uma equação mágica que nos permita ver a possibilidade de compatibilidade entre pessoas. Mas quero enxergar isso de uma maneira mais próxima.
      A Equação de Schrödinger é um caso particular de uma equação do tipo H(f(x)) = E.f(x). Vamos escrever esta equação de um jeito menos matemático: “Eu faço a pergunta H para a f(x), em seguida, obtenho a resposta E da f(x).” Então, podemos pegar nosso problema e escrever ele desta forma, não é? A pergunta H pode ser, por exemplo, “Você gosta de mim?”. Teremos dois valores possíveis, ou E=“Sim.” ou E=”Não.” (Vamos desconsiderar os casos extremamente mais complicados. Geralmente eles só aparecem em Mecânica Quântica quando a pergunta H não é bem feita.). 
      O problema, como já disse, é que aqui as coisas não são matemáticas. Por isso, não podemos de vez calcular a probabilidade de cada uma das respostas. Aqui, os únicos cálculos válidos são a intuição e o bom senso. Meu professor de física matemática me disse uma vez que “Nossa intuição só nos manda dormir e comer doces.”, sendo assim, não julgo que se deva confiar muito nela pra tirar qualquer conclusão. Já o bom senso sozinho não da conta de fazer todas as previsões.
      Em física experimental, quando chegamos neste impasse, geralmente montamos o experimento e vemos no que vai dar. Mas lá podemos fazer o experimento um milhão de vezes para poder fazer estatística e achar as probabilidades. No nosso experimento mental aqui não temos este luxo. Faremos o experimento uma vez, e nenhuma outra. Os riscos existem, mas um bom cientista sempre tenta usar o bom senso primeiro e a coragem logo em seguida. 
      Recentemente procuramos variáveis escondidas que nos ajudassem a poder dizer que o mundo era determinístico, mas a procura acabou num fracasso total, e ainda negando a possibilidade de que tais coisas existam. Devemos nos contentar com o fato de que Schrödinger foi uma boa cartomante pra elétrons, mais ainda temos sérios problemas pra prever o futuro dos humanos.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Encantados, mas Imperfeitos

     Já falei aqui mesmo que príncipes encantados não existem. Pois bem, vim aqui reformular isso: O que tenho visto por ai são príncipes sim, mas cada um com o seu defeito particular. Mas isso é obvio, não é? Desde criança, nos empurraram histórias de príncipes que tinham seus problemas pessoais. Tinha um que se aproveitava de mulheres enquanto elas dormiam, outro com seria queda por garotas mortas em bosques. Tinha um que nunca viu uma gilete na vida e roncava feito um cão (Este era o favorito da minha mãe.) e outro era de um país diferente, que queria dominar e escravizar o seu povo... Cada um com os seus problemas, cada problema pior que o outro. Acho que no fundo o nosso erro não está em acreditar que o príncipe encantado existe, está em pressupor que ele é perfeito.
     Recentemente conheci alguns príncipes encantados, dentre os muitos que conheci em toda a minha vida. Um melhores, outros piores. Tem um com excelente gosto musical e com um sorriso lindo como o de uma criança, alem do incrível dom pra fotografia, mas que não fala muito e nunca continuou um assunto que eu tente puxar. Outro ainda que é um artista nato e sonha tão alto na vida que do alto dos seus sonhos pode acenar para monges tibetanos meditando, porem é do tipo que prefere estar sozinho (E o deve, se quer mesmo atingir suas metas.). Conheci outros ainda que eram cascas lindas, do tipo que valeria a pena parar olhando e desenhar cada detalhe da expressão pra criar uma obra prima, mas que na primeira oportunidade já queriam tirar a roupa. São tantos, mas tantos que não dá pra contar com os dedos (Nem falar de todos eles aqui.).
     Alem disso, existem os que chamarei de “Príncipes Amaldiçoados”. Parece um nome sério, né... Mas é minha maneira de dizer de príncipes que mascaram seus defeitos e aproveitam suas qualidades para tirar vantagens dos outros. Príncipes assim também existiram nos contos de fada, só parar pra pensar. Na vida real temos lotes e lotes deles. Acho que os que mais conheci foram os que tentam se aproximas dos inteligentes e usufruir de seu dom, os ludibriando com seus talentos como beleza ou outros. Mas ainda existem os oportunista, os golpistas, os infiéis, os colecionadores (Palavra que aqui se refere aos que gostam de ficar com gente de todo tipo o tempo todo, como quem monta uma coleção.). 
     A Bela Adormecida, conto que li ainda criança, falava de 13 fadas. Acho que isso ainda se aplica aos dias de hoje. Todos nós temos um encantamento concedido por uma das doze fadas que receberam convite, e outros tem uma maldição rogada pela esquecida e ignorada fada marrom. Isso faz de todos nós príncipes, que por sermos humanos, temos defeitos incalculavelmente complicados. Mas um dia você (ou ele/ela) acorda com um beijo e ai não dá mais pra mudar muita coisa. Ainda acho que o truque é escolher uma boa torre, um bom dragão guarda e tomar sonífero até o príncipe encantado chegar. (Embora eu esteja cogitando trocar o dragão por um dinossauro, que é muito mais legal!)

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Barco

        Como uma mulher ateniense à beira-mar, acenei para a partida de cada um dos meus amados, sabendo que não voltariam. Hoje, os ventos já me trouxeram noticias de que eles estão léguas a norte e a leste daqui, muito longe até para que minhas lembranças sobrevivam à distancia. Já não me lembro mais bem como eram seus olhos, talvez um pouco mais dos verdes do que de outros... Ou daqueles cujas estrelas sem duvidas guiaram sua tripulação. Meus amados capitães. Entre eles nenhum naufrago (Talvez um ou outro à deriva no tempestuoso e confuso Mar do Caribe.). Mas sempre esperei no cais, pronto a receber novas embarcações. Agora, vejo o meu amor zarpar sem uma embarcação. O amor deixou seu barco no cais, e de nada adianta um barco parado, sem seu capitão... Afundemos o navio? Aguardemos a chegada de um novo capitão? Ou então esquecemos este barco e esperamos uma nova esquadra passar pelo porto e deixar aqui uma de suas destemidas embarcações? Talvez eu não deva responder isso, assim como a mulher de longo vestido esvoaçante que contempla o mar a procura de uma embarcação nada pode fazer para que os barcos atraquem no cais.

sábado, 13 de julho de 2013

Se ao Menos me Beijasse

Será que seria tão doloroso?
Quanto tempo você demoraria
Pra esquecer que me beijou?
Um beijo regado a pena que fosse
Mas um beijo pra alguém com sede
Que muito ansiava por esse beijo
Mais que qualquer outro...

Será que eu não sou tão bom
A ponto de valer o esforço
De me dar um beijo passageiro
Apenas pra me dar um motivo
Pra sorrir o restante da semana?
Pra me fazer aguentar melhor
Os pesos nada leves que carrego.

Será que ficaria assim tão abalado
De beijar outro homem como você?
Será que se mudaria tanto assim?
Ou será outro de meus problemas?
Poderia te fazer feliz mesmo assim?
Mesmo infeliz...

Será que se todos os homens
Pelos quais já me apaixonei
Tivessem me dado um beijo,
Mesmo que um beijo de pena,
Ainda seria assim tão triste?
Sei apenas que se me beijasse
Teria com o que sonhar...

domingo, 23 de junho de 2013

Pouco Mudei

Pouco mudou neste começo de estação
O céu ainda está rosa a noite, sempre faz frio
E eu ainda me deito na minha cama sozinho
Ainda pego o meu celular como sempre fazia
E ainda tento mandar as mesmas mensagens
Para a mesma pessoa que há anos que mando

Minha barba maior só disfarçou minha idade
Ainda sou jovem demais para ser creditado
Jovem demais para ser tratado com respeito
Jovem demais para conquistar quem eu amo
Ainda falta a experiência adquirida com os anos
Que meu sofrido coração ainda não assimilou

Ainda estudo as teorias que eu sempre estudei
Números demais aplicados a problemas insolúveis
Ainda teorizo sobre as mesmas idéias que tinha
Enquanto coloco minha cabeça da forma desejada
Mesmo não podendo mais fazer os mesmos traços
Por que esqueci o meu compasso numa estrela

Ainda olho pro céu a noite procurando planetas
E os focalizo com a mesma lente ocular embaçada
Ainda troco o garfo pelo fouet sem necessidade
E pico os meus legumes com tesoura, não com faca
Ainda ouço as mesmas musicas quando triste
E as cantoras sempre me lembram de quem amo

Ainda amo as mesmas pessoas que antes
Ainda sou consolado pelos mesmos amigos
Ainda choro pelas mesmas causas inúteis
E pelas mesmas coisas que não acontecerão
Ainda me apaixono em apenas um piscar de olhos
E me deixo iludir pelos mesmos velhos truques

Posso dizer que ainda sou meu mesmo em fim
Cresci muito pouco de uns tempos pra cá
Ainda tenho os mesmos olhos caídos de antes
E ainda choro por dentro quase todo o tempo
Mesmo negando sempre que me perguntam
Por amor aqueles poucos que me consideram

E ainda tenho um velho livro para escrever...

domingo, 2 de junho de 2013

Algumas Desculpas e Agradecimentos

     Às vezes, fazemos burradas tão grandes que nada pode apagar. E isso não é tão incomum quanto pode parecer. Você que está lendo este texto com certeza já deve ter deixado de estudar para uma prova insubstituível, não é? Deve ter uma ou duas, se não dezenas, de cicatrizes que vieram de pequenos deslizes incorrigíveis. Bem, isso não é de tudo ruim! Podemos aprender muito com esse tipo de erro. Só quando passamos por coisas assim, sabemos realmente o peso de nossas ações.
     Hoje escrevo para pedir desculpas por um dos meus maiores erros incorrigíveis. Este em particular deve ser o pior erro que uma pessoa pode cometer: Amar. Não! Amar por si só não é um erro. Mas o amor, se adquirido em um momento inadequado, pode desencadear uma série de eventos indesejáveis... Este momento inoportuno aqui é muito bem representado por um amor não correspondido por um amigo. Sério, se nunca fez isso, agradeça aos seus deuses todos os dias! É horrível! A gente chora, a pessoa que amamos chora, as pessoas que nos amam choram...  Simplesmente, este é sim um erro incorrigível.
     Quando digo incorrigível é por que é amor. Se fosse qualquer outra coisa (Como paixonite, tesão, fogo, etc...), um pouco de vinho, tempo, chocolate e sono já tava de bom tamanho pra esquecer. Com o amor o buraco é mais embaixo. A gente fica o resto da vida preso à pessoa, preocupado com ela, como se de alguma forma fossemos responsáveis por tudo de ruim que acontecer a ela, pelo simples fato de não estarmos lá para protegê-la. Podem se passar anos, mas toda a vez que você ver a pessoa, vai sentir a mesma vontade de ir até ela e abraçá-la apertado, como se nunca fosse soltar. E toda vez que abraçá-la, seu cérebro vai parar o tempo por alguns instantes e registrar cada décimo de segundo com detalhes que só você poderia perceber.
     Então, este meu deslize aconteceu a um bom tempo. Hoje, ainda sinto esta vontade de estar perto e de ajudar essa pessoa em tudo que ela precisar... Porem depois de tanto correr atrás dele, acho que a assustei... Talvez por que ela notasse que não ia ter cura... Talvez por que ela chorasse toda vez que eu falava no que sentia... Mas são só palpites... O fato é que, agora, toda a linda amizade que tínhamos virou um singelo aceno de longe nos corredores da universidade. Culpa? Unicamente minha por ter tentado algo impossível tantas vezes.
     Mas neste texto queria parar um pouco para dar a devida atenção para algumas pessoas. Existiram anjos na minha vida que eu nunca terei como retribuir cada favor que me fizeram. Eles enxugaram as minhas lagrimas sempre que chorei... Ouviram, e ainda ouvem, minhas lamentações estúpidas e recaídas infantis. Eles me deram água quando mal conseguia respirar, me abraçaram e me levaram pra casa quase rastejando. Estes amigos passaram as piores tribulações ao meu lado e sempre tiveram fé na minha felicidade futura, mesmo quando nem eu mesmo mais acreditava. (De um deles eu até roubei um beijo uma vez, pensando na pessoa que amo.) Sem estes meus escudeiros, mal teria chegado até hoje sem estar pelo menos mil vezes mais gordo ou fumando horrores... Eles me deram força pra continuar minha vida, mesmo depois de todas as minhas falhas (Às vezes falhas com eles mesmos...).
     Quero fechar este texto agora reiterando minha eterna divida com estes meus anjos da guarda... Qualquer coisa que eu possa fazer por eles será um eterno prazer, e sem dúvida bem menos do que eles merecem. Quero também pedir a todos, mais uma vez, pela minha humanidade limitada, pela minha mania de fazer o certo e por ser franco demais quando não deveria. Espero poder estar com vocês, pelo menos, o resto de nossas vidas.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

E se fosse diferente?

Se o garoto me amasse, seria diferente
Ele estaria aqui agora me consolando
Teria feito uma guerra quando parti
Não teria deixado chegar onde chegou
Não teria dormido quando eu falava
Não ficaria triste pelo meu atraso
Mas não sorriria tanto quando presenteado
Por que se ele me amasse como amei
Não teria por que ter presa na eternidade

Se meu amigo tivesse se apaixonado
Eu, que já o estava, estaria completo
Se ele tivesse me beijado quando pode
Se ao menos tivesse ariscado tentar
Teríamos sido felizes, mesmo que breves
E eu não teria chorado no meio de nossos amigos
Nem teria me entregado a algo novo pra esquecer
Nunca iria desistir de tê-lo ao meu lado
Mas temo que mesmo depois do que chorei
E de toda a dor que senti ao te ver com outro
Ainda não sei se desisti de te ter comigo
Como meu mais eterno e puro amor

Se aquele outro garoto não tivesse sumido
E me deixado achá-lo na cama com outro
Depois de quarenta dias sem atender o celular
Ou se ainda aquele outro se importasse comigo
Ao invés de pensar no que eu tinha a oferecer
Como um professor particular carente e comprável
E se não tivesse estragado nossa única formatura
E não tivesse me dado três meses de depressão
E não tivesse me mandado uma foto sem roupa
Que eu acho que foi só de provocação
Ou se ainda aquele outro não tivesse me agarrado
E me feito perceber o quanto gostava dele
Só pra me humilhar em publico na escola
Por que eu sabia mais química que a professora

E se eu não tivesse esta mania estúpida
De me deixar apaixonar por qualquer pessoa
Desde que demonstre um pouco de carinho
Se eu não fosse tão volátil e não chorasse tanto
Se não pensasse que o amor vale mesmo a pena
E desistisse de uma vez da minha esperança tola...
Será que, mesmo sem isso tudo que passei (e passo)
Será que mesmo assim ainda seria eu aqui?

Mas de fato creio que valeu a pena ter vivido
E chorado, e rido, e me entregado, e me vendido
E ter me apaixonado loucamente muitas vezes
Simplesmente pelo prazer de ser quem eu sou
E pela esperança (inocente) de que o pior já passou

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Já Devia Ter Desistido


     Que gosto será que a água tem pra quem nunca a bebeu? Mesmo este líquido tão puro e tido como insípido pode ser fascinante e de sabor impagável para os que têm sede. Sei bem o que é querer ter e não poder... Estar tão perto da água a ponto de ver os reflexos das estrelas sobre ela, e não poder provar nem a menor das gotas... 
      A água de que falo são os lábios que nunca beijei, por mais que tentasse... É a pele que nunca toquei se não para um amigável abraço... A água de que falo é um amor que só me voltou como uma amizade salgada e seca...  Desejar ter mais do que podemos é potencialmente perigoso, principalmente quando não desistimos...
      Chego ao ponto de achar que tenho me impedido de realmente degustar o novo por nunca ter bebido desta água... Ter evitado tantas outras bocas... Ter me afastado de tantos outros sorrisos... Ter me privado de olhar nos olhos de tantos outros na esperança de ver as estrelas que moram nos seus...
     Já deveria ter desistido, pelo meu próprio bem... Eu já deveria ter desistido... Acho até quer já desisti, e ainda estou chorando por tê-lo feito...

domingo, 20 de janeiro de 2013

Arriscar, ou arriscar, ou ir pra casa


     Me pergunto quase sempre se estou fazendo a coisa certa e, na maioria dos casos, não sei responder. De certo que algumas coisas são obviamente erradas, mas será que não deveria arriscar o caminho que parece errado, no caso da duvida? Sabem, é como estar na beira de uma grande cachoeira e não saber se a água metros a baixo de você, encoberta pela nevoa da cascata, é funda o suficiente para pular com segurança. Esta historia pode terminar (num modelo simplista) de três formas. É sobre estas formas que queria debater um pouco hoje. E o porquê? Eu tenho vivido muito esta duvida e sempre tenho escolhido o caminho mais seguro... Sabemos bem que não se faz historia tomando os caminhos seguros e bem conhecidos! As grandes revoluções estão datadas nos dias em que homens comuns ousaram arriscar e deixaram, desde então, de ser comuns.
     E no que diz respeito a arriscar, me refiro a pessoa que na minha metáfora anterior, pula de olhos fechados rumo a superfície da água encoberta por névoa, sem sequer saber se ela existe. Estas pessoas simplesmente ignoram os riscos e as possíveis perdas, ou mesmo que as considerem, as desprezam. Estas pessoas sem duvida tem consigo um espírito de ousadia, que pode estar sendo movido pelo desespero, ou pela bravura, ou pela revolta... Algo fez com que valesse a pena arriscar se lançar numa mesa de apostas, sem nenhuma prerrogativa de êxito. Apenas alguns instantes depois do salto, a pessoa vai poder avaliar os frutos da sua decisão, se é que poderá.
     Dizem que a maioria dos suicidas que se lançam de prédios altos se arrependem pouco antes de chegar ao chão. Não confio muito neste resultado, uma vez que não tem como entrevistar a pessoa segundos antes dela chegar ao chão, porem posso dizer algo a respeito de quem acha pedras ao invés de água no fundo da cachoeira: Estas pessoas não vivem para contar a historia. Algumas vezes, ao arriscarmos, notamos que fizemos a pior escolha. Nem sempre a escolha é fatídica, mas ela pode ferir sim muitas pessoas (o que é potencialmente pior do que ferir somente você). Quando você nota que esta lá, quebrado e estirado nas rochas, talvez sem uma parte de si, talvez até sem si próprio, nada nem ninguém vai poder reverter o fluxo do tempo e te tornar de novo o que era antes do salto. Mesmo que os sangramentos acabem, as dores parem e as feridas se curem, as cicatrizes ficarão para sempre em você... Na sua pele, no seu coração, no seu sangue, no seu rosto... Olhe pra você hoje, nu, diante de um espelho. Você facilmente vai poder parar e rever cada mínima cicatriz... Você pode até não se lembrar da causa, mas ela está lá, e nunca vai sair...
     Porem não é só em pedras que pode terminar uma catarata. Existem os bem afortunados que saltaram rumo à sorte também, e não falharam. O salto é a melhor parte: O frio na barriga, o vento fresco que bate em seu rosto se arrasta por seu corpo como as mãos de um amante... É possível sentir as pequenas gotículas que formam a nevoa da cachoeira se chocando contra a nossa face, geladas e brilhantes, como pequenos flocos de neve flutuante. Os braços abertos nos dão a sensação de vôo, de libertação... Segundos que enquanto duram, são infinitamente longos. Após alguns instante, você sente seu corpo se chocar contra a superfície cristalina do lago abaixo da cachoeira, e quando seu corpo submerso se afasta do turbilhão, você pode desfrutar de alguns instantes de silencio sublime e incomparável, cercado da natureza intensamente viva e sublime do mundo debaixo d’água. Este êxtase de sensações contrastantes tem seu êxito final ao colocar seu rosto mais uma vez através do espelho cristalino e ser recepcionado pelo rei Sol, que orna e dá vida para toda a natureza ao seu redor...
     E todo este quadro se construiu sobre uma possibilidade, sobre um sorteio de dados. Já que falamos em possibilidades, vamos tentar quantizar um pouco nosso discurso: Digamos que você é um sujeito de muita sorte, ok? E pela manhã você gosta de pular cachoeiras para se divertir. Você têm experiência nisso, não pula em qualquer cachoeira, logo sua chance de acertar deve ser bem alta. Acho que você se daria uns 80%, ou ainda 90% de chance de acerto, mas eu confio muito mesmo nas suas habilidades, e vou confiar que suas chances  são de 99% de êxito. O que vou fazer agora pode ser estipulado com a ajuda de qualquer calculadora cientifica próxima. Caso você salte durante um ano completo, todas as manhãs, uma cachoeira, quais são suas chances de acertar todos os saltos? Só pra adiantar, vou falar de uma vez que o resultado dá por volta de 2,5%... Se eu fosse você começaria a me preocupar com esta sua maneira de viver a vida. Principalmente se você pretende fazer isso o restante da sua vida, o que podemos hipoteticamente dizer que serão mais 40 anos (o que te daria ai uns 14.610 saltos pela frente). Acho que você consegue refazer as contas com este numero e ver que a sua chance de escapar ileso é bem menos do que a de você “ganhar na mega”, ou ainda (sem muito exagero) de você ser atropelado por um bonde cheio de elefantes pintados de rosa, agora mesmo.
     O que fazer então, se por melhor que se seja em arriscar, vamos acabar mais cedo ou tarde dando com a cara contra as rochas? Aparece então o que chamo, sem muita nomenclatura formal, de “Ir para casa”. Se você está diante da catarata, pensando em pular, mas resolve ir para casa comer uma torta de amoras ou jogar videogame, você optou por este caminho. Vantagens e desvantagens? Esta é uma pergunta fácil de responder: Você pode refazer as contas que acabei de falar pra este caso, ok? Mas desta vez, a pergunta será “Se você nunca pular uma cachoeira durante 40 anos, qual sua chance de sair ileso à quedas de cachoeira mal sucedidas?” Este pergunta vai nos levar a um problema de probabilidade condicional, e vamos poder então determinar, mesmo sem contas, que a chance de você sair ileso é de 100%. A desvantagem, que pesa muito na cabeça dos adeptos deste caminho, são a de nunca poder desfrutas dos prazeres de que falei... Nem das gotículas brilhantes de água contra o rosto... Nem da serenidade do leito do lado... Nem do calor do Sol o recepcionando de volta à superfície...
     Tenho visto que eu e mais poucos amigos de verdade ainda optaram por “ir para casa” ao invés de arriscar se jogar. Não sou a pessoa certa pra postular qual seria o melhor caminho, nem acredito que exista tal pessoa. Posso afirmar sim que todos se arriscam a pequenos saltos todos os dias, saltos dos quais pouco devemos temer. Mas são os grandes saltos que nos fazem pensar em como agir. Assim como as guerras, eles nos categorizam em Heróis, Covardes e Cadáveres. Espero que no seu próximo salto, pense melhor, reflita... E se descobrir que pular é a melhor escolha e pular, pouco depois eu estarei lá, ou para te dar flores de congratulações, ou então para polas em seu túmulo.