domingo, 4 de abril de 2010

Sobre Esconder o Amor

     Hoje pela manha, meditando a respeito do amor, veio a minha cabeça a imagem da brilhante pintora e mulher espirituosa que foi Frida Kahlo. Muita coisa havia de interessante nesta mulher alem de uma sobrancelha que nunca viu uma pinça. Em muitos de seus quadros ela encontrava um dilema terrível: Como mostrar em traços de desenho o que se passa na mente de uma pessoa? E ela usava um artifício artístico para suprir esta carência. Uma espécie de janela era aberta na testa da pessoa representada, e por ela, Frida pintava as imagens do que se passava lá dentro.
    Mas sei que alguns de vocês devem estar pensando: “Mas o que tem a ver esta mulher com uma meditação a cerca do amor?” Não, não estou apaixonado por uma defunta pintora. O que me fez pensar nela foi o fato de que muitas vezes nos escondemos os nossos pensamentos, nossas idéias. “É impossível esconder o amor!” dizem os populares, mas muitos de nós ainda o fazemos com bastante qualidade. Mas e se nos não pudéssemos mesmo esconder o amor. E se nos fossemos como Frida pintava: Tivéssemos uma janelinha que mostrasse aos outros em que andava nossa mente?
      Primeiro dia de aula. Você segue pelos corredores, quase vazios ainda, da universidade. Para na porta da sala e começa a observar as pessoas, seus futuros colegas de curso.  Pouco a pouco eles aparecem, e vão também se juntando a turma de calouros. Lá vem aquela que sem duvidas será a garota mais popular. Todos os garotos da sala começam a formular senas quentes com ela em suas mentes. Outros ainda pensam em jantares românticos, em restaurantes luxuosos. Já ela, passa tentando não olhar para estes pensamentos, mas quem olha os dela nota que no fundo ela também viu algum garoto que a motivou a pensar em senas semelhantes.
      Ai vem outra pérola, o Nerd. Não um Nerd qualquer, um dos bons. Um dos que traz com sigo outros adjetivos como hacker, otaku, jogador de RPG e ate o de professor, pois já leciona algo a um bom tempo. Ele vem como se nada fosse estranho. Lógico, ele conhece mais da metade do corpo acadêmico e já estudou lá fazendo algum cursinho complementar ou paralelo. Mas o Nerd também ama, e este em especial gostou de uma garota que esta sentada na primeira fila. Porem pra você é quase impossível acompanhar a mente do Nerd apaixonado, pois passam centenas de quadros por minuto. Entre eles imagens dele com a pessoa, mangás, cenas românticas de animes e ate apaixonantes equações de 5º gral. Percebendo que esta pessoa supera ate o seu próprio nível de “Nerdisse”, você desiste de entender como ele ama alguém.
      Agora vem aquele garoto que todo mundo acha legal, e que nada se diz contra. Um bom namorado, um inteligente aluno, um amigo exemplar. Porem ao olhar em sua “janela”, vemos que ele também cria senas. Este garoto em especial cria senas com outros colegas da sala, outros garotos. Estranho sabendo que ele tem namorada... Será o que cativa sua mente a tais coisas? Será que ele realmente gosta da namorada? Bem, agora a mente dele está ocupada pensando em homens seminus, mas como você é muito curioso, vai sem duvidas ficar de olho pra ver se mais tarde ele pensa em algo que te ajuda a entendê-lo.
       E agora é a sua vez, meu caro leitor. Está lá sentadinho, ai chega aquele ou aquela colega de sala que chama a sua atenção. Ele vem e senta do seu lago. O que fazer? A resposta é obvia, tentar pensar em nada e agir naturalmente. Mas por quanto tempo você vai agüentar? No meu caso não agüentaria muito, e logo a pessoa veria o que eu penso, que provavelmente seriam versos românticos escritos com métricas e rimas que teriam me surgido de maneira extremamente naturais.
      Pode reparar, te garanto que ate o parágrafo acima você achou esta idéia de “janela da mente” muito interessante. Mas assim que você notou que teria uma também, a idéia começou a não parecer tão boa. O problema é que nós não temos estas janelas, mas somos tão transparentes como se a tivéssemos. Creia, se o sentimento que passa em sua mente for mesmo muito forte a pessoa acaba vendo. Será que não valeria mais a pena abrirmos as “janelas” de vez? Ou será que, no fundo, fingir não amar e fingir não ver que os outros também amam é mais confortável?


João Paulo Almeida de Mendonça


Auto-retrato da pintora mexicana Frida Kahlo,
onde a caveira em sua testa é uma espécie de exteriorização dos
seus pensamentos.

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