quinta-feira, 16 de setembro de 2010

1º Selo

Honra ou Lógica?

  As pessoas vistas de cima do Town Time parecem uma massa de formigas eufóricas. Todo dia fico em cima desta arranha-céu e posso notar que nos últimos anos nada mudou. A mesma massa caótica, as mesmas mentes simplistas, individualistas e pragmáticas. E o que me torna diferentes dessa massa? O simples fato de estar aqui em cima, olhando tudo de fora.
  Quando venho aqui faço uma analise do que fiz, das pessoas que ajudei ou salvei. Das pessoas que prendi, que impedi ou, em casos mais freqüentes do que eu gostaria, matei. Sim, por que matar é ruim, mas as vezes é a mais lógica atitude a ser tomada. Não me julgo capaz de avaliar quem morre ou não, por isso prefiro evitar matar pessoas. Já as pessoas que ajudo são sempre as mesmas: Senhoras, crianças, banqueiros... Todos com o mesmo sorriso e a mesma gratidão...
  Sabe o que mais me dói? É salvar pessoas que sorriem para minha mascara. As pessoas ao sorririam para o analista de sistemas comum e quase desapercebido que sou por detrás desta roupa. Elas sorriem para um herói, não para um homem. Eu poderia continuar voando, lendo mentes e salvando vidas, que as pessoas nunca iam se dar conta de que eu sou alguém. Minto, ainda sobrariam jornais sensacionalistas para cumprir este papel.
  Mas isso me leva a me perguntar, quem sou eu? Será que quando uso esta mascara ainda sou eu? Será que quando invado mentes, a minha ainda está aqui dentro? Eu sou um analista de sistemas, formado a pouco, namoro um carinha normal que conheci na faculdade, falo dois idiomas, tenho intolerância a lactose e ronco. Te parece muito normal, não? Mas um belo dia inventei de fazer um suéter diferente, mostrar que tinha talentos legais e ajudar um pouco as pessoas. Acho que desde que fiz isso, não dá mais pra falar que sou comum... Que sou massa...
  Talvez a face mais negra de ser um herói seja salvar pessoas e olhar na cara delas depois, notando que salvou alguém que não merecia. Ou que você deseja ate matar... Tinha 14 anos e começava a aprender a ler  mente das pessoas. No colégio sempre fui o estranho, o nerd. E como sempre aviam os que se achavam melhores e nos surravam... Um dia reagi e denunciei um deles na ilusão que a perseguição parasse. Na manha seguinte o cara estava lá, impune.
  Na hora do intervalo fui pego e levado pro banheiro. Um dos brutamontes ficou na porta, enquanto outros cinco cuidaram de me dar uma surra e me estuprar. Eu britava por socorro, e nada... As pessoas passavam do lado de fora e eu escutava suas mentes... Tinham pessoas com mais medo que eu... Talvez eu fosse o menos vitima, todos os outros são reféns do que estes poucos “melhores” falam ou pensão...  Acredite, nesta hora eu ouvi cada pensamento deles. São dignos de pena...  Gays mal resolvidos, crianças abandonadas, rapazes mau amados... Nem esta pena suprimiu o ódio que criei deles... Nem todos estes anos foram o suficiente para esquecer este dias... Estas três horas que pareceram pra mim uma eternidade...
  Esta escola pegou fogo hoje, e eu salvei cada um dos que estavam lá dentro. Acalmei cada pessoa. Achei cada vitima que ainda fosse capaz de pensar... Não sou do tipo super forte ou invulnerável, mas sei pensar muito mais do que um fortão com uma cueca por cima do pijama. Assim que as chamas se dissiparem fui ver como estavam as cabeças das vitimas, que sempre estão uma bagunça nestas horas. Lá estavam quatro dos garotos que me violentaram naquele dia. Salvei cada um deles sem pensar nem quem eram, sem nem olhar...
  Este tempo de atuação me tornou uma maquina de primeiros socorros. Alguém que por mais genial que pareça é programado para fazer sempre a mesma coisa. Quando era criança, me disseram que fazer o bem era o certo e que nos faria feliz... Dia a dia prendo pessoas bem mais felizes que eu... Pessoas que tiveram tudo que quiseram... Pessoas que são puras no sentido de não terem ouvido, ou não terem acreditado, no mito de que a caridade é o caminho da felicidade... Sou feliz como sou e é fato. Mas será que seria mais eu mesmo se não fosse um herói?

Um comentário:

  1. O 1º Selo é uma homenagem a dois artistas muito talentosos. São eles Joe Phillips e Patrick Fillion. Ambos muito talentosos tanto na produção de seus desenhos quanto na criação de enredos cativantes. a estes gênios, os meus parabéns!!!

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