segunda-feira, 20 de setembro de 2010

5º Selo: Emersão


     O sono se expande como um nevoeiro, que esgueiro entra pelas frestas de nosso consciente o completando com o que podemos chamar de sonho. É Como se os sonhos fossem uma pedra lançada num lago, e suas catástrofes fossem as turbulências geradas por esta pedra. Por sorte, nosso subconsciente nos prove de duas defesas: A primeira é o simples fato de nos nunca morrermos em nossos sonhos e de que na manhã seguinte teremos o prazer de acordar e bastara uma leve esfregada de mão na nuca para que tudo suma da nossa memória.
     Esta historia fala de um homem que teve um destes dons roubado. Talvez por ironia divina, para os que crêem em Deus, ou talvez por acaso, para os adeptos da sorte, este homem teve uma chance que nenhum ser humano que se tem noticia teve. 
     Sr. R. acordou pela manha. Casa limpa e arrumada? Pelo visto sua mulher resolveu acordar mais sedo... Antes de escovar os dentes ele olha para do relógio de cabeceira: “6:30 / Sunday” Mais uma surpresa. Domingo? Ele jurava que ontem tinha sido terça... Mas seguiu sem questionar, pois ninguém reclama de um bom domingo. Da cozinha vinha um cheiro ótimo, que parecia ser de pão recém assado, macio e quente. Tiro e queda: na cozinha sua mulher o aguarda com uma bandeja de pão fresco com manteiga.
     Café a mesa, ele se senta e comeu pão com manteiga, que derretia e contrastava seu salgado com o doce do pão sovado. Logo desceram seus dois filhos, dois pequenos e loiros garotos. O mais velho já trazia a roupa de passei, pois hoje iria para a casa de um amigo. Sentaram os dois após beijarem os pais e também se serviram. O Sr. R. ficou admirando a sua família. Era a família dos sonhos de qualquer um.
     Se levantou e foi tomar ar na varanda. O céu estava semi-encoberto, de forma que a claridade era tal para que as cores nem se perdessem nem se realçassem e sim fossem exatamente do tom que são. A grama verde esmeralda, as flores amarelas do inicio da primavera, as casas brancas dos visinhos... Tudo perfeito... Tudo como sempre sonhou...
     A vista do Sr. R ficou escura e o chão sub seus pés de repente sumiu. Sentiu-se como se puxado de solavanco para um lugar muito distante, a uma velocidade tal que se efetuou curvas, não podia dizer nada, pois não percebera. Foi quando tudo parou e ele recuperou a visão.
     Em uma cama de hospital ele vê todos os que vivem com ele. Não sua mulher e seus filhos, mas sim sua mãe, seu irmão e seus amigos que realmente importavam. Estavam todos com caras serias ao redor de um corpo inerte que respirava levemente. Quem era? Era o próprio R.K. que parecia estar dormindo. Nesta hora ouve-se os conselhos do medico, que entra compassivo. O laudo é um sono prolongado que já se estendera por mais de quatro dias.
     Foi então que R.K. Se lembrou de quem é, ou era: um jovem estudante, de vida simples e solitária. Alguém sem muitas expectativas mais com alguns poucos sonhos. Entre eles a mulher perfeita, os filhos perfeitos e a vida perfeita. }Talvez não absolutamente perfeitos, mas o mais perfeitos possível.
     O garoto se imergiu em sonhos e agora se defrontou com a realidade. A vida que por mais que tente negar é a dele. As pessoas que por mais que ele não ame, o amam. A vida de dias chatos de musica, solidão e estudo... A vida que a pouco escolheu ter... Será que haveria como despertar o corpo e voltar ao normal? Será que poderia simplesmente voltar? Tentar se jogar em si próprio? Mas nada disso funcionava com certeza...
     Alem disso havia outra reflexão: Será que valeria a pena tentar voltar? E se ele conseguisse? Os sonhos tão tangíveis virariam pó diante de seus olhos... Toda a vida que sonhara ter desapareceria. Tudo! Sem filhos perfeitos, sem mulher perfeita, sem emprego perfeito...
     R. K. foi acometido de pensamento estranho: “E se eu não conseguir voltar?” Sem mãe, sem irmão, sem amigos... Certo, algumas destas pessoas realmente significavam muito pouco, mas e as que significavam algo? E as pessoas que o amavam de verdade? E a faculdade que escolheu? Será que valeria apena trocar tudo que construíra ate hoje para viver um sonho? Trocar todo amor que lhe oferecem por um amor que na verdade só existe em sua mente... Em suas antigas especulações de futuro...
     O relógio toca. “5:30 / Wednesday”... Escovar os dentes, tomar café, um beijo na sua mãe, mochila nas costas... R. K. segue para mais um dia comum... Quem sabe hoje não viva um sonho? Quem sabe prefira algo real?

2 comentários:

  1. Dedico este texto em especial para um grande amigo e brilhante escritor: Ricardo Kloss. Ele gentilmente me cedeu esta idéia brilhante para que eu pudesse quebrar um de maus selos de aniversario com ela. Que este texto seja alvo de reflexão e analise a todos que o lerem.
    Também aproveito o espaço para pedir que visitem o blog que este amigo escreve: Travesseiro de Penas, que está entre os meus links de blogs recomendados.
    No mais, apenas agradeço pela visita e mais uma vez ao Ricardo por me ceder um pouco deste seu talento tão especial através deste texto.

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  2. Muito bom!
    "Talvez não absolutamente perfeitos, mas o mais perfeitos possíveis"
    Não sei... se um amor for um amor vale a pena trocar tudo, desde que se tenha certeza da retribuição.
    viver de sonhos sem realidade é se afogar em ilusão, brincar de ser feliz e fingir que está vivendo e na realidade: isso não é viver.
    Mas há quem "sobreviva" pensando que está vivendo assim.
    Bom pra eles (eu acho) Só não acordar tarde para a vida e ver que não tem que pegar a escova de dentes, pedir a mãe algo e ir viver mais um dia pelo simples fato de que o tempo para realizar sonhos acabou.
    Muito bom o seu texto e perdão o testamento de comentário.
    visite
    http://paginazabertas.blogspot.com/

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